Monday, November 27, 2006

Desflorestação e destruição da biodiversidade

Uma das principais atitudes que prejudica e destrói as florestas é a desflorestação.Este processo de destruição, em grande escala, das florestas, que já atinge a metade das matas nativas do mundo. Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), as florestas cobrem actualmente cerca de 33.000.000 de km² (12.000.000 são tropicais, 21.100.000 são temperadas e 200.000.000 são mangues), número que corresponde a 22% das terras emersas do planeta. A Organização de Alimentação e Agricultura (FAO) estima que, entre 1981 e 1990, foram derrubados 150.000.000 de há de matas tropicais no mundo.Na Amazónia, segundo dados do governo brasileiro, a taxa de desflorestação cresceu 34% depois de 1992: a extensão devastada, que até 1991 totalizava 11.130 km², passou a 14.896 km² no ano de 1996. As regiões de protecção ambiental abrangem apenas 6% das florestas remanescentes, área equivalente à do México. Em poucos anos a floresta Amazónica já perdeu cerca de 10% do seu domínio original. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, 61% das terras que hoje pertencem ao nosso país eram ocupadas por matas. Desde então, simultaneamente à ocupação do território e à expansão do povoamento, o território brasileiro começou a ser desflorestado.
OS MOTIVOS DA DEVASTAÇÃO - Eles têm sido diversos: obtenção de lenha para as fornalhas dos engenhos de açúcar, limpeza do terreno para a instalação de lavouras ou de pastagens para o gado, exploração da madeira etc. A primeira floresta a ser devastada foi a mata Atlântica e, restam hoje apenas 5% daquilo que ela era originalmente. A extensão das florestas brasileiras corresponde actualmente a menos de 30% da superfície do país.
FORMAS DE DESMATAMENTO – Uma das principais formas de desflorestação têm sido as queimadas de extensas áreas para a prática de agricultura e pecuária. A expansão dos centros urbanos, a construção de estradas e a implantação de grandes projectos agro minerais e hidroeléctricos também motivam as devastações. Outra causa importante é a comercialização da madeira e, em menor grau, a extracção de inúmeras outras espécies de interesse económico. Segundo a WWF, em 1991 a exploração mundial dos recursos florestais rendeu cerca de US$ 400 biliões. A extracção de madeira – matéria-prima para a construção de moradias e importante fonte de energia – responde por grande parte desse valor. Em países como Zaire, Tanzânia e Gabão, a actividade corresponde a até 6% do PIB. Em Camarões, a desflorestação aumentou 400% desde 1993. CONSEQÛENCIAS DO DESMATAMENTO - As principais são: Destruição da biodiversidade; Genocídio e etnocídio das nações indígenas; Erosão e empobrecimento dos solos; Enchentes e assoreamento dos rios; Elevação das temperaturas; Desertificação; Proliferação de pragas e doenças. A primeira consequência da desflorestação é a destruição da biodiversidade, como resultado da diminuição ou, muitas vezes, da extinção de espécies vegetais e animais. Um efeito da desflorestação é o agravamento dos processos erosivos. A erosão é um fenómeno natural, que é absorvido pelos ecossistemas sem nenhum tipo de desequilíbrio. A retirada da cobertura vegetal expõe o solo ao impacto das chuvas. As consequências dessa interferência humana são várias: Aumento do processo erosivo, o que leva a um empobrecimento dos solos, como resultado de sua camada superficial, e, muitas vezes, acaba inviabilizando a agricultura; Assoreamento de rios e lagos, como resultado da elevação da sedimentação, que provoca desequilíbrios nesses ecossistemas aquáticos, além de causar enchentes e, muitas vezes, trazer dificuldades para a navegação; Extinção de nascentes; o rebaixamento do lençol freático, resultante da menor infiltração da água das chuvas no subsolo;
Diminuição dos índices pluviómetros, em consequência do fenómeno descrito acima, mas também do fim da evapotranspiração. Estima-se que metades das chuvas ácidas sobre as florestas tropicais são resultantes da evapotranspiração, ou, seja da troca de água da floresta com a atmosfera; Elevação das temperaturas locais e regionais, como consequência da maior irradiação de calor para a atmosfera a partir do solo exposto;
Agravamento dos processos de desertificação, devido à combinação de todos os fenómenos até agora descritos; Redução ou fim das actividades extractivas vegetais, muitas vezes de alto valor socioeconómico; Proliferação de pragas e doenças, como resultado de desequilíbrios nas cadeias alimentares. Além desses impactos locais e regionais da devastação das florestas, há também um perigoso impacto em escala global. A queima das florestas seja em incêndios criminosos, seja na forma de lenha ou carvão vegetal vem tem colaborado para aumentar a concentração de gás carbónico (CO2) na atmosfera. É importante lembrar que esse gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa. IMPACTOS AMBIENTAIS EM ECOSSISTEMAS NATURAIS - Um dos principais impactos ambientais que ocorrem em um ecossistema natural é a devastação das florestas, notadamente das tropicais, as mais ricas em biodiversidade. E por que ocorre com tanta avidez a desflorestação de milhares de quilómetros quadrados de florestas tropicais? Essa devastação ocorre basicamente por factores económicos, tanto na Amazónia quanto nas florestas africanas e nas do Sul e Sudeste Asiático. A exploração madeireira é feita clandestinamente ou, muitas vezes, com a conivência de governantes inescrupulosos e insensíveis aos graves problemas ecológicos decorrentes dela. Não levam em conta os interesses das comunidades, nem os interesses da nação que os abriga porque, com raras excepções, esses projectos são comandados por grandes grupos transnacionais, interessados apenas em auferir altos lucros.

Monday, November 13, 2006

Impacto cataclísmico

Meteoritos

Um meteoro é uma raia luminosa de luz no céu (ou uma "estrela cadente") produzida pela entrada de um meteoróide pequeno na atmosfera da Terra. Se estiver num local com céu escuro e limpo provavelmente verá alguns por hora numa noite comum; durante uma das chuvas de meteoros anuais pode chegar a ver até 100/hora. Meteoros muito luminosos são conhecidos como bolas de fogo.
Os meteoritos são restos da formação do sistema solar que caem na Terra. A maioria vem de asteróides, incluindo alguns que se acredita terem vindo especificamente de 4 Vesta; e alguns que provavelmente vêm de cometas. Um número pequeno de meteoritos descobertos concluiu-se serem de origem Lunar (23 achados) ou Marciana (22).
Um número muito grande de meteoróides entra na atmosfera da Terra todos os dia chegando a mais de cem toneladas de material. Mas eles são quase todos muito pequenos, só algumas miligramas cada. Só os maiores alcançam a superfície e se tornam meteoritos. O maior meteorito já achado (Hoba, na Namíbia) pesa 60 toneladas.


O meteoróide comum entra na atmosfera entre 10 e 70 km/sec. Mas todos até os muito maiores são rapidamente desacelerados para algumas centenas de km/hora pela fricção atmosférica e atingem a superfície da Terra com muito pouco estrago. Porém meteoróides maiores que algumas centenas de toneladas não vêm a sua velocidade ser muito reduzida; só estes grandes (e felizmente raros) fazem crateras.
Um bom exemplo do que acontece quando um asteróide pequeno bate na Terra é a Cratera de Barringer (também conhecida como a Cratera do meteoro) perto de Winslow, Arizona. Foi formada por um meteoro férreo há aproximadamente 50,000 anos atrás, tinha cerca de 30-50metros de diâmetro. A cratera tem 1200metros de diâmetro e 200metros de profundidade. Foram identificadas aproximadamente 120 crateras de impacto na Terra.

Um mais recente impacto aconteceu em 1908 numa região despovoada remota da Sibéria ocidental conhecida como Tunguska . O objecto tinha aproximadamente 60metros de diâmetro e provavelmente consistia de muitos pedaços levemente agrupados. Em contraste com o evento da Cratera de Barringer, o objecto Tunguska desintegrou-se completamente antes de bater no chão e assim nenhuma cratera foi formada. Entretanto, todas as árvores foram derrubadas numa área de 50quilômetros. O som da explosão foi ouvido em Londres.
Há provavelmente pelo menos 1000 asteróides maiores que 1km de diâmetro que cruzam a órbita da
Terra. Um destes atinge em média a Terra pelo menos uma vez a cada um milhão de anos. Os maiores são menos numerosos e os impactos são menos frequentes, mas quando acontecem, têm consequências desastrosas.
O impacto de um cometa ou asteróide com o tamanho de Hephaistos ou SL9 que bateu na Terra foi provavelmente o responsável há 65 milhões de anos atrás pela extinção dos dinossauros. Deixou uma cratera de 180km agora enterrada debaixo da selva perto de Chicxulub na Península de Iucatã (direita).
Cálculos baseados no número observado de asteróides sugerem que nós deveríamos esperar aproximadamente 3 crateras de 10km ou mais a ser formada na Terra a cada milhão de anos. Isto está bem de acordo com os registros geológicos. É mais difícil de computar a frequência de grandes impactos como o Chicxulub mas uma vez a cada 100 milhões de anos parece uma suposição razoável.

Asteróides


Como no filme Armagedon, as consequências do impacto de um asteróide seriam desastrosas. Um asteróide dessa envergadura pode ter um poder de devastação da mesma magnitude que 65.000 bombas de Hiroshima. A força libertada pelo impacto poderia dizimar toda a superfície terrestre.Claro que o alarmismo não deve ser disseminado, já que as possibilidades do impacto com nosso planeta não sejam preocupantes. As probabilidades são de 1 em 6.250, mesmo assim uma probabilidade suficientemente grande para que os cientistas se preocupem e comecem a pensar na importância do provável choque.Em 1998, foi feita uma petição formal à NASA para identificar até 2008 pelo menos 90% dos asteróides que tivessem mais de um quilómetro de diâmetro e que viessem a cruzar a órbita da terra em algum momento. Esta tarefa está 75% completa. A verdade é que as propostas do congresso norte-americano são as mais peculiares, chegando a discutir-se no ano passado soluções como pôr canhões de lasers na Lua, utilizar um sistema de atracção gravitacional (que ninguém sabe o que é, seguramente o produto da imaginação de um louco qualquer), naves que "capturem" o asteróide de alguma maneira e também a já tradicional forma à Hollywood: energia nuclear em forma de bomba.A última vez que ocorreu algo parecido com um possível impacto futuro foi em 1908, há quase 100 anos, quando um asteróide com 70metros de diâmetro explodiu a mais de 4quilómetros de altura (segundo se especula) libertando energia equivalente entre 10 e 15 milhões de toneladas de TNT, e varrendo literalmente da face da Terra mais de 60 milhões de árvores (e todo o resto de vida animal e vegetal da zona). Ocorreu perto de Tunguska, Sibéria.
Mesmo pequenos são destrutivos:
Não é necessário que seja um corpo muito grande.Qualquer objecto com um diâmetro superior a 15 quilómetros que colidisse com a Terra esmagaria, sem contemplações toda a vida do planeta.Uma equipa de cientistas norte-americanos acaba de publicar, na revista Nature, a possível confirmação de algo que já era objecto das teorias dos astrónomos desde há algum tempo: a Lua nasceu em consequência do impacto catastrófico de um protoplaneta sobre a Terra jovem, há cerca de 4 500 milhões de anos.A notícia coloca-nos diante de um dos destinos que o nosso planeta, mais tarde ou mais cedo, poderá ter de enfrentar. Sabemos que o universo próximo está repleto de objectos cujas órbitas se poderiam cruzar com a da Terra no momento mais inoportuno. Parece uma carambola cósmica difícil de acontecer, mas bastas olhar para as “cicatrizes” de nossa vizinha Lua (que não são outra coisa que restos de milhares de impactos), ou para as crateras Terrestres como a de Chicxilub, no lucatão, para perceber que os berlindes do Universo chocam com demasiada assiduidade.O mais preocupante é que não é necessário um pedregulho de impressionantes dimensões para dar cabo de nós a nível planetário. A extinção da quase totalidade das espécies que habitam actualmente a Terra poderia produzir-se através do impacto de um meteorito de apenas 15 quilómetros de diâmetro de diâmetro, uma pedrinha insignificante, a nível planetário, que faria a temperatura atmosférica subir até limites incompatíveis com a vida.

Friday, November 03, 2006

Pandemias

Saúde: Pandemias num Mundo Globalizado:

A hipótese do vírus responsável pela Gripe das Aves se tornar transmissível entre os humanos coloca-nos perante a possibilidade de virmos a sofrer uma nova epidemia a nível mundial. Uma nova mutação do Influenza pode estar a acontecer. A Organização Mundial de Saúde e os Centros Nacionais da Gripe encontram-se vigilantes. Mas as consequências de uma epidemia serão grandes e imprevisíveis.As possibilidades de previsão e de prevenção que a medicina hoje encerra conferem-lhe uma certa aura profética que, em alguns momentos específicos, se torna capaz de deixar as sociedades em suspenso. Eis pois o que hoje se passa relativamente à possibilidade de uma pandemia provocada por uma nova estirpe do Vírus Influenza (o vírus responsável pela gripe, assim denominado por se ter pensado muito tempo que os sintomas que provocava eram efeitos dos astros), o H5N1 que já matou, até à data, pelo menos 42 pessoas no sudeste asiático.Resultando de uma mutação do vírus responsável pela Gripe das aves, este novo subtipo de vírus poderá gerar situações, a nível mundial, semelhantes às que ocorreram com os três surtos pandémicos registados no século XX. Isto porque, apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) e os Centros Nacionais da Gripe se encontrarem preparados para a possibilidade de uma epidemia, a mutação de um vírus implica que as entidades desconheçam as suas características, não podendo, por isso, agir por antecipação, à semelhança do que acontece com as vacinas preparadas para os surtos de gripe que se registam todos os Invernos. Aliás, “a pandemia surge porque o vírus aparece sob uma forma diferente da habitual”, explica o Dr. Francisco George, especialista em Saúde Pública e membro do Centro Nacional da Gripe do Instituto Ricardo Jorge, no 8º Fórum Goulbenkian de Saúde, na conferência dedicada às «Pandemias num Mundo Globalizado».O que acontece no caso concreto da Gripe das Aves é que podemos estar perante uma estirpe viral que, apesar de normalmente se alojar em animais, se modificou a ponto de conseguir infectar os humanos. Os casos até hoje registados parecem ter resultado do contacto directo das pessoas com os animais infectados. No entanto, há suspeitas de que o novo subtipo de vírus seja transmissível homem a homem, o que pode ter consequências imprevisíveis. Perante este facto, uma pergunta se coloca: como é que os vírus se modificam? De duas maneiras: ou sofrem gradualmente modificações adaptativas ou surgem de um modo explosivo, como uma nova recombinação, sendo necessário, no que toca a este caso, que o hospedeiro se encontre infectado com a génese aviária e com a génese humana.O sacrifício massificado das aves que possam transportar o vírus tem sido a medida preventiva mais utilizada para evitar a propagação da doença. Mas ao saber-se que o vírus tende a mudar num espaço de tempo que medeia entre 10 e 50 anos, o receio de uma nova epidemia é absolutamente real. Perante uma ameaça deste tipo, o que é que há a fazer?“Aqui o problema é que se estivermos dentro de uma epidemia, a vacina vem fora de tempo. Por exemplo, em Portugal, as vacinas são aplicadas aos grupos de risco no Outono para os proteger – da gripe e das suas complicações - no Inverno. Mas nós conhecemos o vírus que circula ou que se prevê que venha a circular (H1 ou H3). No entanto, perante uma pandemia isso não acontece. Uma vez que o vírus é desconhecido, não se poderá fazer uma vacina por antecipação. A vacina só poderá surgir quando o vírus emergir”, afirma Francisco George. “Da primeira vez que surgir, o H5 vai ser completamente novo, portanto, não sei se será possível produzir um protótipo da vacina”, adianta.Aquilo que alguns países estão a fazer é comprarem antecipadamente aos produtores. Algumas farmacêuticas já garantiram que, no caso do vírus surgir, e se a OMS lhes der autorização, terão a vacina disponível em cerca de três semanas. Mas a vacina pandémica vai ser universal. Os grupos de risco deixam de existir e toda a população deverá ter de ser vacinada. Quem suportará estes custos?A pergunta fica em suspenso mas a vigilância deverá ser apertada. Na opinião de Bernardus Ganter, conselheiro da OMS para a Europa, “é imperativo que os sistemas de controlo e vigilância internacionais sejam eficazes e que haja uma reorganização a nível mundial dos planos de prevenção. A OMS encontra-se já a rever as regulamentações internacionais para a Saúde que, até à data, apenas regulamentam cólera, a peste e a febre-amarela. É no entanto necessário que os sistemas de saúde de cada país sofram uma revisão constante de modo a que, em caso de necessidade, possam assegurar uma resposta adequada em tempo certo”. A vigilância internacional sindrómica obriga então ao equacionamento de vários questões. “A rapidez de produção de vacinas, a avaliação da gravidade da situação e contemplação da hipótese de, perante uma pandemia, haver restrições a nível internacional, são pontos que devem ser decididos. É essencial que cada país desenvolva a suas próprias capacidades de detecção e resposta a uma epidemia, tendo sempre em conta a cooperação e a coordenação com os organismos internacionais”, afirma Ganter.A possibilidade de haver restrições de livre circulação de pessoas e bens a nível internacional é hoje uma matéria sensível. No entanto, em caso de uma epidemia essa situação terá mesmo de ser observada. “A globalização impõe a supressão de barreiras mas em caso de necessidade estas têm de ser erguidas. Já na Idade Média os médicos percebiam que perante uma epidemia era necessário adoptar medidas de restrição e de quarentena”.Uma epidemia vivida à escala mundial obrigaria à reconfiguração de muitos dos procedimentos que fazem parte das nossas rotinas. Como irá acordar o mundo se a OMS tiver que declarar estarmos perante uma pandemia de gripe? Por enquanto ainda não sabemos, mas nos próximos tempos o Influenza irá dar-nos a resposta.
Ana Celeste MendesQUERCUS Ambiente nº. 14 (Maio/Junho de 2005)

Influenza:
Um vírus com muito má cara
Comummente considerada uma doença banal e sem importância, a gripe – doença infecciosa aguda provocada pelo vírus Influenza, descoberto em 1933 - dizimou, ao longo dos séculos, vários milhões de pessoas. Tosse, dores, febre, arrepios e suores fazem parte do quadro sintomatológico característico desta infecção, que apesar de se poder manifestar intensamente é habitualmente debelada pelos indivíduos imunologicamente competentes.Apesar disso, e porque de tempos a tempos o vírus sofre uma mutação face à qual as pessoas não possuem anticorpos protectores, o Influenza tem sido responsável por diversos surtos epidémicos que têm avassalado a humanidade ao longo dos séculos. Durante o século XX houve três epidemias graves:
A Gripe Espanhola.
A primeira, conhecida pela “Gripe Espanhola”, ocorreu entre1918 e 1919 e provocou entre 20 a 40 milhões de mortos, estimando-se que tenha chegado a França por meio dos chineses que vieram para a Europa trabalhar na retaguarda dos exércitos aliados. As tropas francesas, inglesas e norte-americanas foram fortemente dizimadas pela doença logo em Abril de 1918. Em Maio do mesmo ano, o vírus propaga-se pela Grécia, por Espanha e Portugal e em Junho pela Noruega e pela Dinamarca. Em Agosto é a vez da Holanda e da Suécia e em Setembro o vírus atinge a América. Apesar de ter provocado uma grande taxa de mortalidade, este primeiro surto da “Gripe Espanhola” foi o menos grave dos dois que se lhe seguiram. O segundo que emergiu no Outono de 1918 e terminou em Janeiro de 1919 e o terceiro, que ocorreu entre Fevereiro e Maio de 1919 foram muito mais mortais. Tendo afectado 50% da população mundial - sobretudo a população jovem -, este surto pandémico caracterizou-se por uma elevadíssima taxa de mortalidade e de morbilidade (pela frequência das complicações associadas), pelo que foi qualificado como o mais grave conflito epidémico de todos os tempos.
A Gripe Asiática
Iniciada em Fevereiro de 1957, no norte da China, a “Gripe Asiática” afectou, em meados de Abril, Hong-Kong e Singapura, tendo-se posteriormente difundido para a Índia e para a Austrália. Durante os meses de Maio e Junho, o vírus disseminou-se por todo o Oriente, e estendeu-se a África entre Julho e Agosto. Nos meses seguintes, a infecção propagou-se pela Europa e em Outubro e Novembro disseminou-se pelos EUA.Com a rapidez de transportes e o aumento das viagens, os vírus atingiu a população mundial em menos de 10 meses e sofreu a mais importante variação antigénica registada até à altura: O novo subtipo, o H2N2 apresentou-se completamente diferente do subtipo anterior, o H1N1.Tendo entrado em Portugal por via marítima através de passageiros provenientes de vários portos africanos atingidos pela gripe, a doença adquiriu, entre nós, um carácter epidémico em Setembro, tendo atingido o seu auge em Outubro do mesmo ano.A partir daí, a Organização Mundial de Saúde - que só tomou conhecimento do surto surgido na China, Hong Kong e Singapura em Maio de 1957 - passou a fornecer aos Centros Nacionais da Gripe de cada país, as características do ou dos vírus em circulação, o que permitiu a tomada das precauções necessárias para evitar a propagação da infecção.
Gripe de Hong Kong
Ocorrida em 1968, a “Gripe de Hong Kong” foi a terceira pandemia do século XX e deveu-se ao aparecimento de uma nova variação do vírus Influenza a (H3N2), que deu origem a um novo subtipo. A variante antigénica produzida em Hong Kong, em meados de Julho de 1968, resultou numa epidemia de grande extensão, que se propagou ao mundo através da China, de acordo com as mesmas linhas de difusão da gripe asiática.Tendo chegado ao Médio Oriente em Outubro de 1968, o surto só chegou à Europa em 1969, onde se propagou em duas ondas epidémicas (Portugal sofreu o primeiro surto entre o final de 1968 e o início de 1969 e o segundo surto no início de 1970). Apesar de se ter disseminado por todo o mundo, a “Gripe de Hong Kong” caracterizou-se por ter sido um surto benigno (à excepção do que aconteceu nos EUA), não estando por isso associada a um grande número de mortes.O sistema de vigilância epidemiológica, coordenado pela OMS em colaboração com um número cada vez maior de Centro Nacionais da Gripe de vários países, tornou possível a análise das características dos vírus em circulação.


Outras pandemias
Fortemente relacionadas com a pobreza e com as condições de higiene e alimentação das populações, as pandemias surgem como um problema de difícil solução. Sida, paludismo, cólera e malária afectam quase mil milhões de pessoas no mundo inteiro. Constituindo um forte entrave ao desenvolvimento social, cultural e económico dos povos, estas patologias são ainda mais difíceis de travar pelo contexto social em que se inserem: os países mais afectados são precisamente aqueles que não possuem as infra-estruturas necessárias para que os cuidados de higiene e de alimentação e o acesso aos medicamentos e aos cuidados primários de saúde sejam assegurados. E a partir do momento em que as más condições de higiene, a insalubridade e a má alimentação propiciam a proliferação da doença, os países mais pobres são os alvos de eleição.As doenças propagam-se sem que haja recursos monetários para assegurar a distribuição de medicamentos e vacinas que possam controlar a situação. Movidas por outros interesses, as indústrias farmacêuticas deixam para trás a investigação que poderia levar ao tratamento e à cura destas doenças. Os países do terceiro mundo estão praticamente por sua conta. E a pobreza surge, então, como causa e como consequência das doenças que matam ou deixam com grande morbilidade grande parte da população activa destes países. Mas o resto do mundo passa ao lado do problema: os pobres são dizimados pelas doenças que o mundo rico já esqueceu.Bernardus Ganter, da Organização Mundial de Saúde, veio afirmar, no Fórum Gulbenkian de Saúde, que o início do século XXI foi marcado pela emergência de várias doenças e de vários problemas de saúde pública que se registaram não de uma forma localizada mas à escala global e que se devem, sobretudo, “à rapidez com que as pessoas hoje se deslocam, ao fluxo migratório das populações, ao turismo, à massificação dos hábitos alimentares, aos problemas sociais que surgem da urbanização descontrolada, aos produtos geneticamente modificados, às alterações climáticas e aos desastres naturais”.Mas se as epidemias chegam a todos, a sua distribuição não é igualitária. Os países pobres (e as classes mais desfavorecidas dos países abastados) registam uma taxa de infecção por tuberculose e Sida muito superior à que se verifica nos países mais desenvolvidos. Porque aí a epidemia é outra: “a obesidade e a diabetes são as pandemias não transmissíveis nos dias de hoje”. O que é verdade. Mas convenhamos que a partir do momento em que não surgem na miséria absoluta, os seus contornos serão necessariamente diferentes.




Portugal tem plano de contingência activado:
De acordo com a agência Lusa, Portugal já activou, de acordo com o Plano de Contingência para a Gripe, os mecanismos de vigilância relativamente à epidemia da gripe das aves. Elaborado pela Direcção Geral de Saúde, o plano será aplicado em função da progressão da doença no tempo e no espaço, tendo em conta o seu índice de transmissibilidade. Estruturalmente dividido em seis fases (de zero a cinco), o plano contempla um vasto leque de circunstâncias que variam entre a actuação dos agentes de saúde em casos de inexistência de um novo vírus em circulação e uma fase pós pandémica.Portugal encontra-se hoje no nível dois da fase zero (fase interpandémica) que é accionado “quando se confirma a ocorrência de dois ou mais casos de infecção no homem pelo novo vírus”, apesar da transmissão homem a homem permanecer questionável. Nesta fase de vigilância, o Plano determina a revisão e actualização do plano de contingências, planeamento do reforço da vigilância epidemiológica e a monitorização da evolução da doença em animais. No caso da transmissão do vírus entre humanos ser comprovada, e ainda segundo informações da agência Lusa, o Plano determina acções como a identificação das populações nacionais com risco aumentado de infecção pelo novo vírus, o número de pessoas que necessitarão de internamento, a activação de estruturas sentinela fora do sector da saúde e a transmissão de informação aos viajantes. Caso a OMS confirme o início de uma pandemia, procede-se à definição das populações prioritárias para vacinação (no caso de existir uma vacina) e estabelece-se uma rede de referenciação de cuidados hospitalares e de saúde. No caso da epidemia se registar num dos Estado Membro da União Europeia, Portugal fará uma triagem clínica em passageiros de embarcações, portos, aeronaves e aeroportos. No caso do nosso país ser afectado, está previsto o encerramento de escolas e creches, a limitação ou interdição de visitas a lares e hospitais e o adiamento de todos os internamentos hospitalares não urgentes.O plano estabelece ainda acções para o caso de uma segunda vaga endémica que pode ocorrer entre três a nove meses após a primeira vaga, e para a fase pós-pandémica que pode ocorrer dois ou três anos após o início da pandemia.